sábado, 12 de junho de 2010

Não sabia que isso era crime, diz filha de lavrador vítima de abuso no MA

"Ele me batia muito, me empurrava. Ele me procurava de três em três dias, de oito em oito dias, mas eu não pensava que isso fosse crime."

Dessa forma, S. M. M., 29, descreveu ontem como era o relacionamento com o pai, o lavrador J. A. B. P., 54, preso na terça passada em um povoado de Pinheiro, no interior do Maranhão.

Segundo a polícia, os dois tiveram juntos sete filhos.

Analfabeta e abandonada pela mãe, Sandra contou à Folha que viveu desde os 12 anos sem saber que a violência sexual, o cárcere privado e os maus-tratos cometidos pelo pai eram crimes.

Disse que, quando tinha cinco anos, a mãe deixou a família. Contou que foi vítima do primeiro estupro aos 12 anos, antes de menstruar.

"Ele disse pra mim que ia fazer um serviço e que era pra não dizer pra ninguém. Fiquei com medo de dizer e ele fazer qualquer coisa."

Pai Desconhecido

O primeiro filho-neto nasceu quando ela tinha 15 anos. Hoje, as sete crianças têm de dois meses a 13 anos.

Os filhos têm certidão de nascimento com pai desconhecido. S. disse que escondeu a situação até de um irmão, único que ainda morava na mesma casa.

Apenas um dos sete partos ocorreu em um hospital.

Só o menino de 13 anos frequenta a escola, o que garante R$ 60 do programa Bolsa Família, única renda da casa.

A família vivia afastada de vizinhos em uma ilha de difícil acesso, a 340 km de São Luís. As crianças foram encontradas subnutridas, quase sem roupas, com piolhos.

A irmã m. S., 31, disse que também foi abusada sexualmente pelo lavrador e que teve um filho dele.

Sem medo
S. e os filhos foram retirados de um casebre do povoado em uma ação do Ministério Público e Conselho Tutelar. Seu pai está preso.

Ela e seis filhos --o bebê de dois meses está com um parente-- estão na sede do conselho, agora alimentados, de banho tomado, cabelos cortados e roupas limpas.

Apreensiva com as entrevistas, ela falou, de cabeça baixa, que no dia do resgate tinha saído de casa para arrancar um dente com uma vizinha. E estranhou o movimento da polícia no lugar.

Consciência
S. diz que agora, ciente dos crimes que sofreu, não teme consequências do processo que o pai terá de enfrentar. "Sempre disse pra ele procurar mulher fora."
Na entrevista à Folha, só chorou quando falou sobre a guarda dos filhos. "Fico aqui [no conselho] até o dia que eles quiserem, mas sempre com as crianças. Até o meu bebê eu quero de volta. Se eu conseguisse, queria também voltar pra minha casa. Aqui na cidade não me agrada morar, lá me sinto melhor."

Fonte: Jornal Folha de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário